sábado, 29 de setembro de 2012

Old Vegas

Deixei para o fim o post do lugar que mais gostei em Las Vegas.

Como viajei em cima da hora, não tive tempo de pesquisar nada sobre a cidade. A sorte é que fui almoçar em um restaurante brasileiro, Boca do Brasil - arroz, feijão, batata frita, linguiça mineira acebolada - e conheci o Marcos, ex-atleta de X-Games, hoje funcionário do Cirque du Soleil. Todas as cenas de skate e patins do espetáculo The Beatles LOVE, em cartaz no Mirage Hotel & Casino, é ele quem faz. Marcos falou:

- Vc tem que ir... É um lugar meio underground. Muitos ateliês de artistas, shows. Não pode perder.

Na mesma noite peguei o ônibus de dois andares na Strip rumo a Old vegas. No caminho, muitas wedding chapels (capelas de casamento), onde se pode alugar smoking, vestido de noiva e lumusines para um casório em cima da hora. E também muitos estabelecimentos com a placa: Bail bonds. Perguntei o que era a uma americana ao meu lado e ela explicou:

- Eles pagam a sua fiança se você for em cana. Depois vocês acertam as contas.

Ah!... Claro, pois estamos na Sin City (Cidade do Pecado), outro nome para Las vegas.

Chegando em Old Vegas, me apaixonei. Tudo ali é em menor escala. Ruas estreitas fechadas para carros, velhos hotéis e cassinos recauchutados (ali foi filmado Casino, do Scorcese), palcos com shows de rock e country, muitos covers de artistas nas ruas. Tirei fotos com vários.

Mas o melhor mesmo é o "clima". O espírito da Sin City está vivo ali: muita festa, bebida, mulheres de seminuas dançando sobre balcões, gringos borrachos, motoqueiros paramentados de couro, hipongos recém-saídos de Woodstock, casais de noivos vestidos a caráter, soldados engalanados recém-chegados do Iraque, homeless bebuns... Um caldeirão que faz jus ao bordão estampado nas camisetas: What happens in Vegas stays in Vegas (O que acontece em Vegas, fica em Vegas). Amei! Tanto, que voltei lá no dia seguinte.

É desse lugar que sinto mais saudade.



sábado, 1 de setembro de 2012

Mario, que acendeu a chama

Um dos efeitos colaterais mais chatos de envelhecer é que as pessoas começar a morrer. Quando não nós mesmos, os outros, amigos e parentes.

No início de agosto eu estava em São Paulo, no Metrô, quando meu compadre Marcos André me telefonou.

- Vá, o Mario morreu.

De que? Como? Quando? Enfarte fulminante, 47 anos, 2 filhos.

...

Hoje vi fotos no facebook, da galera da rua reunida - todos nós morávamos no Jardim Botânico, passamos a maior parte da adolescência e juventude juntos - ao redor de um churrasco.

E o Mario no meio, sorrindo.

Lembrei de um samba antigo que o meu pai - que também se foi a exatos 29 anos, em 28 de agostos de 1983 - gostava muito:

Naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim...

...

Mario e eu na pista de dança da discoteca do Clube Federal, no Alto Leblon, 16, 17 anos, música lenta, corpos grudados, hálito no pescoço. Começamos a nos beijar e os beijos, que até então se limitavam à boca, desceram para o corpo. Pelo menos era essa a sensação.

Um fogo acendeu dentro de mim, como se alguém houvesse apertado aquele botão de ignição que existe nos fogões. A chama mestra, primeira, começou ali e continua ardendo, flamejando, até hoje (graças a Deus). Mário foi quem apertou o botão da ignição.

Lembro que não preguei o olho naquela noite, fascinada e encantada com os percursos daquela nova energia circulando dentro de mim, fazendo-me sentir mais viva e acordada.

Eu e Mário ainda ficamos juntos em algumas festinhas, mas nunca rolou namoro. Uma carinho especial, uma simpatia, sim.

A imagem que guardo dele é na Praia de Ipanema, em frente ao Posto 10, onde a galera se reunia. Mário de pé, shorts azul claro combinando com os olhos e uma flor cor de rosa atrás da orelha, sorrindo, a imensidão do céu e mar atrás de si.

É lá onde ele reside agora.

Abaixo, Marcos André (camisa branca), Mario (no meio, camisa azul clara) e eu, com a bola no colo. (1982)